Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

7.6.04

Cinismo Socialista e como o Público se tornou o jornal oficial do PS

As recentes confusões entre a direcção do Jornal Público e o seu corpo redactorial não poderiam augurar nada de bom.
Ontem, ficou a saber-se porquê. A entrevista ao Presidente da República só não é ridícula por se tratar, de facto, de uma figura incontornável do nosso sistema democrático, que respeito.
Pela pena, dir-se-ia inexperiente e inerte, de Maria João Seixas, ficamos a saber exactamente a mesma coisa que já sabíamos acerca do Dr. Jorge Sampaio, Presidente da República. Nem mais, nem menos: exactamente a mesma coisa.

A ascendência, infância, juventude, lutas partidárias, amizades, gostos pessoais, períodos históricos ante e post 25 de Abril...
Sobre a lavagem das acções, das sevícias!, dos peregrinos soldados da Revolução, nem uma palavra! Nem meia, nem nada. Um dia a história nos relatará o que realmente se passou.
Não sei de igual modo que ideias tem sobre a Europa - esta Europa que vai a votos brevemente -, sobre a forma como vê a pretensa campanha eleitoral, como vê e sente as manobras do PC (que parece querer voltar ao PREC) pelas mãos dos sindicatos, como vê a atitude irresponsável de António Costa, como reagiu à festa dada por Ferro Rodrigues no Parlamento, como reage perante um candidato que, a despeito do seu próprio Governo, permitiu que a África do Sul utilizasse a denominação Porto, como vê os recentes acontecimentos na Justiça, etc.
Insiste no desânimo generalizado e chama si a responsabilidade de "desenrascar" o País. E insiste novamente. E não contraria as políticas do Governo (essas, sim, desanimadoras). Lamentavelmente, o PR, de quem tinha tantas expectativas, não se compromete. Limita-se a elencar aquilo que já sabemos; fá-lo de forma mais erudita, é certo, mas não difere do que dizem o João do Minho e da Ana do Algarve.
Quanto à Educação, leia-se a sua resposta:
"P - Onde é que se joga, do seu ponto de vista, o "tudo" que falta à sociedade portuguesa para avançar futuro dentro com outra qualidade e com outro entusiasmo?

R - Na escola. Regresso sempre à escola. É no pré-escolar, no básico e no secundário que tudo se joga: na inventiva, na capacidade de problematizar, na apreciação cívica, na iniciação à cultura científica, nas escolhas pelas artes, nas visitas aos museus, às salas de concerto, ao teatro, no gosto pelas práticas desportivas... Para isso são precisos meios financeiros e a maior parte das escolas públicas não os têm. Não me canso de dizer aos empresários - escolham uma escola como "afilhada", meus senhores, e dêem para lá 300 euros por mês! Seria uma grande ajuda".
Entre a desastrosa 1ª Semana da Educação e a ridícula 2ª Semana (com mediação de seis anos entre as duas), Sampaio só acrescenta o mecenato; ou seja, elenca e não evidencia políticas rigorosas e práticas. Não se compromete.
O dr. Jorge Sampaio, sendo extremamente culto, mas não sendo intelectual, é também inteligente. Perante um PS desorientado, enfraquecido no seu comando, e enraivecido por poder, a estrebuchar por dentro e por fora (em lento processo de implosão desde que Ferro assumiu as funções de secretário-geral), com figuras politicamente desastrosas e socialmente desestabilizadoras, sabe que a melhor forma de ajudar a lista concorrente às europeias é transmitir uma ideia de pessoa cordata, mas incorformada, esclarecida, mas dependente da ajuda de todos os seus co-cidadãos, conhecedora, mas limitada ao próprio desígnio das suas funções. No fundo, não se compromete.
O Público, infelizmente, alinhou nesta linha morna e cínica de fazer política. O PR, como o PS, não quer que Portugal saia do marasmo e inquietção antes de (re)tomar o poder. Esta posição convém ao PS, mas não convém mesmo nada a Portugal.
Comprometimento? Sim, mas só com o PS.