Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

30.4.04

Educação em Portugal, três pequenos apontamentos

Primeiro apontamento
O Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, vai promover, a partir da próxima terça-feira e durante cinco dias, a "Segunda Semana da Educação", tal como pode ser lido aqui.
A iniciativa em aparência é louvável, mas, perante uma análise mais contida é evidentemente reprovável. Desde já, por a "Primeira Semana da Educação" ter sido em 1998, há seis anos, portanto; depois, porque esta iniciativa surge como um favor que se presta à classe docente (internos, externos e indivíduos, consoante as opções do concurso havido há dois meses), ao chamar para si as atenções da generalidade da opinião pública e publicada e relançar o debate sobre educação/educativo em vésperas da saída dos resultados do concurso; segue-se o esvaziamento accionário da função republicana maior que o Dr. Jorge Sampaio exerce ao não fazer mais do que a elencagem dos problemas de que padece a Educação do nosso País: como já aqui escrevi anteriormente, todos, dos actantes educativos, passando por legisladores, legalistas e teóricos da educação, até à generalidade da população, sabemos quais os problemas que actualmente existem. Esperava-se que o PR tivesse ideias e propostas concretas e as transmitisse. Ao relevar apenas, torna-se aliado do Governo e inimigo da Educação.
A postura do Dr. Jorge Sampaio tem sido, infelizmente, sempre esta: discursos em aparência interventores, mas esvaziados de pragmatismo os linhas programáticas de acção; perdemos nós por não saber produzir um enunciado político-social integrador - a fragmentaridade política eneltece pontualmente o seu patrocinado, mas não permite a construção de um enredo político abrangente e progressista.
De qualquer modo, fica aqui o programa.

Terça-feira, 4 de Maio:
A realidade urbana, e mais concretamente a suburbana, tem como território a Amadora, freguesia da Falagueira."A integração Social e Educativa "é o mote da primeira jornada;
Quarta-feira, 5 de Maio:
Idanha e Castelo Branco, no interior, servirão para medir as diferenças entre a cidade e o campo. A "formação pro fissional e prevenção dos abandonos" estarão em debate;
Quinta-feira, 6 de Maio:
Castelo Branco, Paços de Brandão e S. João da Madeira. Zonas de transição, onde se discutirá a "educação ao longo da vida";
Sexta-feira, 7 de Maio:
No Porto, a "qualidade de ensino" será o tema.Visitas, por exemplo, à Escola 2/3 de Paranhos;
Sábado, 8 de Maio Porto. No último dia, a "qualificação da escola pública" será o tema final de um debate na Fundação de Serralves.

Segundo apontamento

Continuando a ler o JN, em papel e on-line, continua a ler-se os habituais disparates daquele matutino. Não sendo culpa sua exclusiva, esperava-se maior atenção. Assim, nesta notícia, o título "Professores e educadores precisam trabalhar juntos" é um equívoco. Os professores são já, ou devem sê-lo, por força das suas próprias convicções, paradigmas educativos e sociais a que estão ligados e por pressão social, educadores- começam por ser educadores a priori, aliás. Por isso, no decurso do texto da notícia, que tem algo de corporativo, pois não há referências a estudos que comprovem, por exemplo, a afirmação de Aldina Frias ("a nível da literacia, está provado que a criança que tenha frequentado pelo menos um ano de Pré-Escolar pode entrar no 1.º ciclo com uma abertura para a aprendizagem que outra criança que não o tenha feito consegue"), aos pré-primários deveria chamar-se socializadores e nunca, por arrogência ou importância que não têm, professores ou educadores.

Terceiro apontamento

Rui Trindade, da FPSEP, ao falar da "necessidade de se distinguir entre saberes que podem ser objecto de ensino e os que só podem ser objectos de aprendizagem", por forma a levar "à construção de projectos curriculares de escola e turma, assim como permite abordar a articulação entre competências e conhecimentos de forma produtiva", mais não faz do que alertar para os vícios que reinam na escola (e confusões) relativos ao desenho curricular que teima em não ser posto em prática, por culpa do seu desconhecimento por parte dos actantes mais importantes da escola.