Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

24.9.05

Como sempre, a ilusão da Educação

As recentes medidas apresentadas para a Educação, pelo chefe do executivo socialista, José Sócrates, para além do normal discurso de números e não de pessoas, revela uma fuga para a frente, não enfrentando os problemas que se colocam ao país nesse campo, e um enorme engano e equívoco em nome de estatísticas a apresentar aos parceiros comunitários.
É verdade que é necessário travar o fluxo iniciado em governos do PSD, com um ministro da Educação do CDS, quer na construção, ou anuição de alvarás, a faculdades privadas ou na abertura de cursos superiores; há muito que importa resedenhar o "parque" do ensino superior. Em anteriores posts, tenho defendido a necessidade de o refazer de cima para baixo, ou seja, afastar os professores, na sua maioria assistentes, dos cursos com reduzido número de alunos, reais ou potenciais, de acordo com estudos de mercado de trabalho (que não existem, diga-se), e não permitir que alunos universitários obtenham os seus diplomas e não consigam singrar no mercado de trabalho. Há, ainda, que fazer uma avaliação séria e criteriosa a tantos e tantos cursos, ditos superiores, sem qualidade alguma, de curricula e mestres. Esses devem fechar. Tem que haver, finalmente, da parte dos responsáveis universitários discernimento suficiente para, sabendo das dificuldades dos seus potenciais licenciados em entrar no mercado de trabalho, não abrir novos cursos - sobre isto, também já tinha dito há cerca de um ano que uma das responsáveis da FLUP (Letras Porto) se mostrava conhecedora dessa dificuldade, mas que ainda assim queria novos cursos unilingues (no ramo educacional). As razões devem por si ser conhecidas.
O PM tem toda a razão em dizer que nem todos os alunos têm perfil ou vocação para prosseguir estudos superiores (fosse um social-democrata ou centrista a dizer a mesmíssima coisa e caía o Carmo e a Trindade; autoritarismo, despotismo e falta de cultura democrática era o que era...) Não pode é abandonar o sistema de ensino tradicional, com as suas escolas básicas e secundárias, e apostar no ensino profissional. Ou melhor, pode e deve, não pode é delegar essa competência para entidades privadas, limitando-se o Estado a mero fiscal, quando o é e plenamente isento e competente.
Bem sei que o apelo da árvore das patacas comunitárias é de uma tentação desmedida, mas... e a qualidade da formação, dos seus formadores e dos formandos? Esta ideia assim apresentada é garante de rigor, qualidade, competência e competitividade? Não, não é.
Ao permitir, ou convidar, alunos a completar o 9º ou 12 anos de escolaridade fora do sistema e da sua influência directa, está a subverter, negativamente, e a comprometer a sua qualificação; poupa o país, em aparência, dinheiro na sua educação/formação, mas perderá num futuro próximo, demasiado próximo.
As escolas profissionais têm na sua maioria formadores apenas com o 12º ano; dão formação em caves, em salas sem arejamento, sem material didáctico e vivem à custa de programas elaborados por escolas superiores sem qualidade - para não haver ambiguidade, sem qualidade as escolas superiores e os programas.
As escolas profissionais preocupam-se apenas em amontoar quilos de papel para entregar ao IEFP e muito menos, ou nada, com a qualidade das formações que ministram. Nas escolas profissionais toda a gente passa; formador que reprove, não mais lá voltará a exercer funções. As escolas profissionais não educam, têm apenas algumas palhaçadas pedagógicas para dar essa ilusão. As escolas profissionais têm cursos de nível II, equivalência ao 9º ano, o que é ridículo; na vizinha Espanha, a formação é dada apenas a partir do 10º ano e somente a voluntários. Essa sim, é formação profissional(izante).
É isto que o governo quer? Ah, e depois há ainda os professores profissionalizados que se humilham em tais sítios, pois andam às ordens de uma ordem que não é a sua, por não terem colocação nas escolas a cargo do ME.
Apresentar como apresentou as suas ideias, cheias de números, claro, Sócrates corre o risco de não ser levado a sério e de se preocupar apenas com estatísiticas. Qualidade do ensino/formação é que não há vislumbre. Nem seria de esperar. Este é um governo de números e não de valores.