Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

10.10.05

Crash Democrático

O Partido socialista, dizem os especialistas da opinião publicada, perdeu ontem as eleições. Perdeu? Pois perdeu. Infelizmente, a turba confunde má governação central, atentatória dos mais elementares direitos cívicos, com governação local; bem sei que os candidatos do PS têm o beneplácito do Largo do Rato, mas perde o País quando se quer protestar, desprezando os programas eleitorais dos proponentes locais. Acredito, até, que excelentes autarcas socialistas tenham "ficado pelo caminho", pagando um preço pelo qual não deveriam. Da mesma forma, autarcas de qualidade dúbia ou nenhuma do PSD (coligados ou sozinhos) subiram ao poder, pelos mesmíssimos motivos.Na noite de ontem, estarreceu-se com a manutenção dos "candidatos bandidos"; argumentou-se com sentimentos de pertença, desafio ao poder central e poder partidário, arrufos de fanfarrões, demérito da justiça, falhanço da justiça, etc. A pergunta é óbvia: por que não se poderiam candidatar, mesmo estando sob alçada judicial/judiciária? Claro que podem. A democracia local já passa por listas independentes (grupos de cidadãos) - o que deveria ter sido sempre assim, para além das juntas de freguesia -, e compreende-se como isso pode incomodar as estruturas partidárias; de uma vez por todas, não é a democracia que está em causa, nunca esteve, é a própria sobrevivência partidária que se começa a adivinhar ondulante e frágil. Conviria que a Comunicação Social não alinhasse com este tipo de inversão de valores e não os propagasse mais cinicamente. (Foi muito triste a forma como a generalidade da Comunicação Social se deixou enredar pelo marketing político e não se atreveu, muito raramente o fez, a questionar, perguntar, forçar os paradoxos, pedir esclarecimentos; também é triste a forma como Ricardo Costa, Miguel Sousa Tavares e Pacheco Pereira se comportaram: o primeiro, sempre com picardias aos convidados, a tentar disfarçar o indisfarçável, a defender o indefensável; o segundo, uma vez mais, a misturar assuntos sérios com futebol...ah! e sim, por esse prisma, Pinto da Costa foi um perdedor imenso; o terceiro, comentava, actualizava o blog, enfim, é um pouco como ir ao estádio e ouvir a narração do jogo de futebol pela telefonia.)
Francisco Louçã já não consegue esconder a criatura vil e mesquinha que é e sempre foi: do PSR, que defende teorias anti-humanitárias e humanistas, burguês assumido, democrata debutante, arrogante e senhor de uma razão única e inalterável, detentor de uma moral e ética anteriores ao Estado-Novo, ideologicamente apátrida, bateu-se contra os "autarcas bandidos", quando ele próprio, ou a sua coligação radical, tinha dois candidatos, da mesma índole. Ainda em campanha, quando inquirido por um polular sobre a defesa do aborto, "o senhor quer matar crianças...", respondeu com um "o senhor não me levante a voz!" E está tudo dito. Ou melhor, até nem está tudo dito, mas estes são apenas alguns exemplos do crash democrático. Poderia a seguir dar o exemplo de Valentim Loureiro; sendo certo que ganhou a câmara de Gondomar, o "aprendiz" ganhou 149 (132+17)...Custou-me sobretudo na noite de ontem, ver ser discutido o acessório e não o essencial. A saber: o que vai mudar, quer com a continuação dos mesmos autarcas, quer com novas equipas camarárias, nos concelhos portugueses. Há algum pacto a levar a efeito contra a corrupção nas câmaras, há ou vai haver afastamento do poder local e do poder, conspurcado, do futebol, há ou haverá nojo nas relações com empreiteiros, já há ou vai haver ordenamento do território? Estas são algumas questões que não vi serem respondidas. Assim como assim, poder-se-ia ter levado para debate a formação das assembleias municipais; tome-se o exemplo de França, onde o vencedor governa a totalidade do seu mandato sem estar refém da oposição, embora esta exista e seja activa. Estas seriam/são as questões a debater. Infelizmente, o marketing político, com a benevolência e incomptência da comunicação social, traz a lume nomes e poucos projectos. Quando se fala em projectos, segui com atenção o "debate" no meu concelho, geralmente é para se afirmar que se pára tudo, o que é demonstrativo de uma grande irresponsabilidade, pois nem "tudo" o que foi feito pelo anterior executivo é mau. Convenhamos e falemos de falta de honestidade intelectual. É também pela sublimação dos números das estatísticas e não dos valores que se pode avaliar o crash democrático; é ainda, quanto ao CDS/PP, que obteve apenas uma câmara, anunciar a sua morte, quando concorreu coligado com o PSD para câmaras e juntas. Há ainda um último dado: grosseiramente, a abstenção diminuiu 3%, o que não deixa de ser um dado curioso.Mas enfim, no cômputo geral, "o meu partido tem mais câmaras que o teu", independentemente dos benefícios ou prejuízos que daí possam advir.Afinal, quem ganhou e quem perdeu? P.S.: A conquista por parte do PCP da autarquia do Barreiro pode ser sintoma de que a facção mais radical do PS começa a desagregar-se. Mas disso também não se falou.