Não admito!
Entre as várias formas de pedir silêncio aos discentes, há uma que já se tornou um hábito: calem-se as galinhas! Poderá não ser ortodoxo, admito, mas é uma forma de discurso pedagógico, eminentemente criadora de empatia na sala de aula e semanticamente carinhosa (até). Desde há anos que a utilizo e nunca nenhum aluno a contestou, pelo contrário acham graça e nunca nenhum se sentiu ofendido ou humilhado (é sempre utilizada, a expressão, em abstracto). Hoje, quando me preparava para sumariar e dar conta da matéria seguinte, eis que uma aluna, refilona, petulante e arrogante, me diz que não admitia ser assim chamada - a conversa nem era consigo -, porque estavamos numa escola, tinha que haver respeito pelos alunos. À própria e aos restantes expliquei o que acima está transcrito e disse o que penso: que quem menos vale e quem menos tem é quem mais exige; é quem mais direitos quer e menos deveres se propõe a cumprir. Não contente, a aluna disse que ia participar de mim. E eu lá lhe disse que, depois de a ouvir expressar-se em Português, era melhor dar-me a participação para lhe corrigir os erros ortográficos, de concordância, etc, que os terá certamente. Amanhã, decidi não os tratar por tu - bem sei que vou estar numa sala de aula - e decidi fazer uma oral à aluna sobre a matéria dada desde o início do ano: França Geográfica (forma geométrica, países fronteiriços, planaltos e montanhas, rios) e cultural (divisão administrativa e natural, Dom-Tom), francofonia (países onde se fala francês como primeira e/ou segunda língua), alfabeto (com incidência para /e/, /g/, /h/, /j/, /k/, /w/, /y/, /z/), sons estudados em estruturas performativas (oi, ei, ai, ou, eau, in, eur, an, u, un), dias da semana e meses do ano. Afinal, vamos estar numa escola, não é? Ou não? Ah, se sobrar tempo, termino a depenagem da galinha, perdão, a oral pelo pedido de apresentação com prénom, nom, âge e nacionalité (com utilização dos verbos être e avoir). Ufa! Estou cansado só com a planificação... |
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