Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

18.11.05

Profs: a greve dos irresponsáveis

Os professores têm sido ao longo de pelo menos vinte anos despojados dos seus mais elementares direitos: direito ao trabalho, direito à competência, direito à dignidade, direito à vida conjugal, direito a salário proporcional a esforço mental e físico desenvolvido, direito a reforma de qualidade e direito à sanidade mental; pelo que digo, e há mais, muito mais, têm direito, justíssimo!, a manifestar a sua indignação, revolta, angústia e preocupação partilhada, pele seu próprio futuro e pelo dos alunos. Deste governo socialista, arrogante, prepotente, autista, incompetente, encunhado e com tiques autoritários, não se pode esperar um ME que lhe escape à influência. No entanto, mesmo se as medidas anunciadas se revelam inócuas, avulsas, incompletas, inconclusivas, impertinentes e atentatórias aos agentes maiores do sistema educativo, há intenção de dialogar essas mesmas propostas (de que se destaca o Estatuto da Carreira Docente e as "aulas de substituição", que os sindicatos a tempo apresentaram alternativas, essas sim, pedagógicas), por isso mesmo benefício de dúvida deve ser dado e, daí decorrendo, suspender a greve - bem sabemos o quanto de cinismo há em mostrar abertura para o diálogo por parte do ME quando a greve estava já anunciada. Outras formas haverá, por ora, de pressionar o governo para os nossos intentos; infelizmente, a greve, que deveria ser o último recurso, tornou-se já uma banalidade, incompreensível para a maioria da população, mesmo se inculta e facilmente manobrável, e desfavorece-nos e fragiliza-nos.
Falar como fala Paulo Sucena, que se mantém a greve, mas que se irá negocial posteriormente com a tutela, é ridículo. Negociar o quê? Só se ja tivesse havido negociações e tivessem falhado seria legítimo, digo eu, apelar à greve. Mas Paulo Sucena vai mais longe: mantém a greve à sexta-feira (como outras havidas no mesmo dia da semana e/ou à segunda-feira) por "razões históricas". Que razões são essas? As do fim-de-samana? Com estes argumentos, «entrega-se o ouro ao bandido», não permitindo que faltem argumentos para nos denegrir e difamar, justissimamente, diga-se. Como se isto não bastasse, há ilustres colegas que fazem greve no aconchego da sua casa. Em três greves que efectuei, fi-las na escola; marca-se posição no local de trabalho, não na cama, não no café, não com a namorada, não nas compras: é na escola que se faz greve.
Ainda assim, a generalidade da comunicação social realça a greve de hoje, como se pode ler aqui e aqui. Nesse ponto, parabéns aos sindicatos por preencherem a agenda dos media (duvido que o mesmo aconteça com a agenda do ME, mas enfim).
Por último, curioso ver as manobras pedantes - uma, duas - do DN online sobre as faltas por nós cometidas (havendo para isso mil e uma razões, embora concorde que se falta em demasia).