Namoros proibidos - o que temem os professores?
A notícia saída ontem no JN sobre a proibição de namoros na Escola Secundária António Sérgio em Vila nova de Gaia poderia ser anacrónica, mas não é, passa-se no nosso século e na nossa sociedade. Palavra de honra que ainda não percebi, pelas escolas por onde passei, o motivo por que a generalidade dos conselhos executivos fica tão afrontada a ponto de proibir e instaurar mesmo, já chegou a acontecer, medidas disciplinares a alunos "prevaricadores". Parece haver uma certa dificuldade em perceber a idade, as motivações e curiosidades - é assim mesmo que quero escrever - dos alunos. Todos, pelo menos os normais, passamos por isso; é salutar que isso aconteça, é desejável que a adolescência não seja desvirtuada da sua componente sensual e sexual. Sobre este tema, que os alunos, os sérios, reclamam maior informação, louva-se o estudo e a proposta de Daniel Sampaio ao defender uma disciplina curricular que aborde estas matérias, conjuntamente com outras de carácter social integrador; quando instaurada, a escola dará um passo de gigante, ao perceber que não pode demitir-se de questões tão prementes como aquelas.
O que se passou em Gaia é simplesmente estúpido; estúpido a ponto de haver intromissão na sexualidade de cada um dos alunos, que, como se calcula, é do domínio privado; estúpido porque rotula alunos de acordo com as suas opções sexuais, logo racista; estúpido porque ao reprimir trocas de afectos, os tacanhos executivos indiciam praticamente o início do coito, o que não corresponde à verdade (na generalidade dos casos, entre os casais, sejam eles homo ou hetero, há ainda a noção de decoro e de decência).
Sucede comigo, quando vejo alunos a namorar, sorrir-lhes cumplicemente, porque me fazem lembrar outros tempos. Acho das coisas mais interessantes e belas o enamoramento. Acho nojento o despotismo sexual, perpretado por esses caceteiros frustrados e auto-assumidos como guardiães de uma moral verdadeiramente hipócrita, como o que actualmente existe. O que deve a escola fazer? Ter valores, transmiti-los, para além das matérias meramente científicas, e falar de sexualidade comprometidamente com os afectos, paixões e amor. Deve também criar um quadro semântico da envolvência da cumplicidade amorosa: simpatizar, gostar, amar, adorar.
Entretanto, o governo prepara-se para proibir o relacionamento sexual com menores de dezoito anos. Acho mal. Menores há que têm maioridade maior que certos grandes, mas enfim, a minha opinião vale o que vale. Não a cumpri no passado, não posso garantir que a cumpra no futuro.
<< Home