Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

13.11.05

Dia 18 não faço greve e sou contra a greve

As razões apresentadas pelos sindicatos para a greve do próximo dia 18 são equívocas, demagógicas, incorrectas e insultuosas para os seus associados, como tal, se estivesse/fosse professor do ensino público não faria greve, apesar de acreditar, com provas concretas, que este governo não tem ideias concertadas para a Educação do nosso País e está, claramente, a assassinar uma das mais belas e importantes profissões que existem: a docência; por outro lado, como aqui já escrevi, prefere e pretende imputar-se a educar as gerações mais novas em detrimento da formação profissional em nome de números e estatísticas, já para não falar no vil metal poupado ao orçamento.
Os sindicatos queixam-se que os colegas não devem substituir os professores faltosos e que não têm competência para leccionar as matérias dos seus colegas (no caso de faltar um professor de matemática e haver um de português que o substitua, por exemplo). Este é um dos pontos que merece discussão, mas não se pode alegar estritamente estes motivos para sair à rua em protesto. Em entrevista ao canal 1 da RTP esta noite, a ministra da Educação, defendendo-se, e bem, com a ignorância de que desconhecia se os professores faltavam muito ou pouco, dentro dos limites da legalidade, declarou que competia às escolas a criação de mecanismos que permitissem ocupar os alunos no caso de faltarem professores; competiria às escolas a ocupação desses espaços lectivos (não necessariamente curriculares). Esta ideia, que não é nova, diga-se, é pertinente e reveladora de avanço civilizacional, para além de considerar a escola como um espaço social de facto e não mero repositório de crianças e adolescentes.
Lamentavelmente, em Portugal os empertigados professores, que são doutores - mas toda a gente já isso sabe! - são contra. São contra porque não evoluíram nem pensam por si próprios, mau grado reclamarem constantemente reconhecimento da sua (superior) qualidade intelectual, agem de acordo com interesses individuais e corporativistas, não tendo ainda percebido que a Escola é um local de intersecção social, política e científica (e que a educação não se restringe unicamente às matérias e à sala de aula), não apenas um local onde se lecciona das 8 às 12. Ser-se professor é mais, muito mais do que mera presença na sala de aula. Nunca compreendi, finalmente, porque andam todos a mando dos sindicatos e sobretudo de sindicalistas auto-denominados professores, que não leccionam há mais de duas décadas e que preferem os corredores ministeriais a estopada de leccionar.
Pode e deve-se criticar a falta de meios para aplicar esta ideia, feita a pensar nos alunos, porventura os agentes mais importantes das escolas. Não se pode criticar a ideia de per si, pois é falta de visão e reconhecimento que às escolas é dada oportunidade de fazer algo que marque a diferença, junto dos alunos e da comunidade em que se insere.
Na minha escola, sou obrigado a avisar as minhas faltas com 48 horas de antecedência, para efeitos de substituição por outro professor. Claro que posso faltar sem avisar... duas vezes, à terceira posso não ver o meu vínculo de trabalho renovado. Da mesma forma, no início do ano, para além do meu horário, devo comunicar uma manhã e uma tarde para efeitos de substituição de alguém que falte; a minha ida pode passar pela mera aula a turmas minhas, pela colaboração em projectos curriculares ou mera vigilância das salas de informática ou biblioteca. Claro que para poder colaborar nesses projectos devo participar mensalmente em reuniões de projecto, além de, mensalmente, também, ter reuniões nocturnas de grupo para planificar matérias e reuniões de avaliação qualitativa das turmas em que lecciono. Funcionamento empresarial? Absolutamente! Funcionamento lectivo. Tout court!