Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

6.12.05

Fim dos exames do 12º ano: o culto do facilitismo e da irresponsabilidade

As notícias vindas a terreiro por parte do ME, na pessoa do secretário de estado Walter Lemos, de que o exame de Português seria afastado da conclusão do 12º ano é prenúncio de uma política sem nexo, rumo e perfeitamente estúpida!
Conforme se pode ler aqui, o ME pretende acabar com o exame a pretexto da sobrecarga dos alunos; indicia ainda pretender responsabilizar as faculdades pelo processo de ingreso dos seus potenciais futuros estudantes. Em verdade, e quanto à primeira, não me parece haver sobrecarga lectiva, parece-me, sim, e muito, haver cada vez mais desresponsabilidade nas escolas permitida aos alunos - santa Psicologia! -, programas sem aprumo e rigor científico algum (de que as editoras são também culpadas pelo excesso de fantasia e didactologia balofa e inconsequente), falta de brio e uma profunda aposta no "desenrascanço"; a conceptualidade e o apelo à autonomia e ao raciocínio são apenas tangentes vislumbradas com muita atenção; quanto às faculdades, há imensas que têm exames de admissão - eu próprio, no meu tempo de candidatura, fiz seis para instituições diferentes, para além da impertinente PGA; não me parece ter ficado sobrecarregado nem traumatizado. Querer desligar o ensino secundário da universidade, uma passagem que deve emrecer atenção e responsabilidade quer de professores do secundário, quer de professores universitários (pelo menos alguns...) é desligar o sistema educativo da corrente e esperar que algum relâmpago furtuito possa alumiar a lâmpada.
O problema, contudo, até nem é esse: imagina-se facilmente Walter Lemos, o secretário de estado afastado de um cargo político por excesso de faltas, a lançar-se para a frente com uma ideia que de tão irresponsável não pode ter outra consequência que não seja o seu afastamento imediato. O Português, a nossa língua materna, ensinada sob três vectores - linguístico, literário e cultural - vê-se subitamente despojada de importância e pertinência porque um secretário de estado faz já campanha pela sua manutenção política junto de jovens eleitores. Nem sequer é o problema da avaliação, para os que, infelizmente, para si próprios, apenas pretendem concluir o 12º ano; é o problema da mensagem e do despudor com que é transmitida. É mais grave ainda quando nós por cá e por lá defendemos a nossa língua materna e a queremos mais alta ainda; é mais grave ainda, quando nós por cá, facilitamos tantas vezes o seu uso e propagamos formas erradas de a utilizar; é mais grave ainda, quando nós por cá sabemos muito pouco da nossa História, cultura e literatura - veja-se o destaque, ou a sua ausência, dado a Fernando Pessoa na semana passada, quando a sua obra literária passou para domínio público.
Por chauvinista que possa parecer, acredito que um exame de Português deveria ser obrigatório e ter peso majestático na obtenção do 12º ano. Ponto!
Quanto à APP, depois do que li das declarações de Paulo Feytor Pinto, e depois de desconfianças anteriores, deixei de ter dúvidas quanto ao frete político.