Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

10.2.04

O direito à decência: hijab



É cada vez mais evidente que sociedade e escola são indissociáveis e que a segunda, mantendo embora um estatuto de reserva moral sobre a primeira, deve ser a parceira mais desejável e juntas construir-se; fazendo-o crescemos cultural e socialmente. Disso não há dúvidas e as reformas educativas do início da década de noventa cada vez mais adquirem estatuto de permanente recorrência e vigilância.
Mas...estará a sociedade ocidental padecida ou disso perto? Desde Novembro do ano transacto que acompanho a polémica (recuso o confronto) e receava isto, que pode ser lido no Le Monde, Liberation e Le Figaro. Pode ainda ser consultado o decreto-lei da Assemblée Nationale aqui.
Lá, como cá, os gabinetes ministeriais e políticos têm excesso de juristas e, como se sabe, pelo menos nós, literatos, sabemos, desde que existem ainda não resolveram o dilema sobre se é a sociedade que existe para se fazerem leis ou se, justificando o seu trabalho, eles dizem que é, fazem as leis para se integrarem na sociedade. Enquanto não se decidem, e já lá vão décadas!, continuam a polular e a reivindicar para si um estatuto decorrente de um positivismo que não entendem.
Isto para dizer que receio que a polémica, não necessariamente esta, possa vir a instalar-se nas nossas escolas e que os seus agentes ajam como juristas; fazendo-o, invertem, subvertem e molestam a educação social. Não se pode ir por aí.
Se a escola, o ensino, é público, se funciona como espelho da sociedade de que imana, podem poucos abdicar das suas crenças a favor de muitos? Pode evocar-se laicidade para desrespeitar grupos minoritários? Procede-se à discriminação positiva - que é a pior das ofensas? Isolam-se os alunos em guetos iguais aos dos bairros? Ou vai fazer-se de conta que somos todos iguais (embora na prática, uns mais do que outros)? Pode a comunidade educativa resolver-se à margem da socialidade? Ou deve, dizem alguns, rebelar-se e assumir um papel interventivo e apropriar-se do poder de sozinha tudo decidir?
Não poderei responder a estas questões sozinho, nem posso atrever-me a responder em contexto escolar. Tal como muitos colegas, lancei o debate na sala de aula e percebi que esta geração será mais solidária e razoável do que a minha. Ainda bem. A transição geracional, afinal, existe.
Para saber mais sobre o islamismo, podem ser consultadas esta página, esta e esta página; sobre o véu e a sua simbologia, aqui.
Post Scriptum: Bem sei que a proibição diz respeito apenas a "símbolos religiosos ostensivos", mas esta linguagem, que a pragmática permite perceber que é jurídica, é sintoma de preocupação.
1) No nosso sistema educativo, procede-se preferencialmente à discriminação positiva; pergunto se não haverá outros mecanismos.
2) Há na nossa sociedade, por força do contingente imigratório, supostos ritos culturais que indignam a nossa sociedade. Veja-se este dossier e pergunte-se quais os limites da Antropologia.