Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

14.2.04

O instituto Camões e a exploração didáctica: o desabafo de uma colega

Há exactamente uma semana fiz sair uma "posta" sobre o Instituto Camões,a Exploração didáctica e a minha indignação. LSS, por mail, escreveu o que se segue.

«Enquanto ex-orientadora de estágio (actividade a que me dediquei
voluntariamente e com todo o empenho e dedicação de que fui capaz) sinto-me «lesada» pela crítica implícitata à expressão «exploração didactica»: é a que nos foi inculcada ao longo de todo o nosso percurso académico como forma de nos referirmos às técnicas que usamos para analisar um documento; e, embora possa não ser a mais correcta, é a que conhecemos! Claro que o termo exploração tem um significado muito mais lato que a «decifração» do conteúdo de um documento, mas esta também exige esforço, por vezes uma grande luta, leva a enfrentar «perigos» e imprevistos e deve conduzir-nos a um bom resultado, não ao nível económico, mas cultural e de conhecimentos. Os autores apresentados não serão, talvez, os mais representativos da
literatura portuguesa, mas a lusofonia é tão vasta que inclui cores, credos,
continentes com realidades culturais e civilizacionais muito diversas e
devemos, enquanto prof. de português, estar abertos a todas as experiências.
É necessário divulgar os novos autores e não apenas os consagrados,
trabalhar quer a prosa quer a poesia - ainda não percebi porque afastaram
dos programas de port. a poesia trovadoresca, Fernão Lopes, Garrett,
Herculano e tantos outros que nem como leitura extensiva aparecem sugeridos, e até «Os Lusíadas» foram «empurrados» para o 12º ano. Tratando-se de autores pouco habituais nos manuais, o Instituto Camões resolveu ajudar os profs apresentando propostas de análise de textos e que como tal devem ser tomadas. Cabe a cada um de nós aproveitar da melhor maneira esta sugestão: não deve ser vista como limitadora da nossa criatividade nem como obrigatoriedade; no entanto há, cada vez mais, prof. que se limitam apenas ao que é apresentado nos manuais adoptados nas suas escolas ou noutros, ao que já aparece resolvido (e com as propostas de resposta ou de correcção, como lhe queiram chamar), porque, para estes, o importante não são os alunos e o seu desenvolvimento, mas os resultados (notas e níveis de aproveitamento) para mostrarem tetrem feito um bom trabalho (quer aos outros elementos da escola, quer junto dos encarregados de educação). Também é verdade que nos é exigido um esforço desmesurado (22 h lectivas, mais preparação de aulas, mais actualização permanente, mais actividades extra-curriculares... e nós não somos de ferro e mesmo este também enferruja!) e que acabamos por cair na rotina quando leccionamos os
mesmos conteúdos programáticos anos seguidos - e a possibilidade de escolha e de mudança é cada vez menor: o ministério pretende fazer-nos optar pela escolha do nível em que pretendemos leccionar e atenção aos novos concursos porque quem for colocado numa EB23 passa a só poder leccionar ao 3º ciclo. Estamos a ficar cada vez mais limitados e condicionados pelas necessidades economicista do governo... e como não-classe que somos nunca nos conseguimos unir para fazer valer e defender os nossos pontos de vista nem os nossos direitos. Já chega!»
LSS