Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

6.4.04

Educação: anos perdidos que nunca mais se vão recuperar

Já não vale a pena dizer ou escrever sobre os padecimentos da Educação: está mal, péssima, moribunda e precisa urgentemente de uma profunda, brutal e imediata incisão accionária. O que acabei de escrever é uma óbvia desconfiança sentida pela populaça e pelos nossos governantes e um dogma para os agentes educativos - agentes, não pacientes!
Será sempre a mesma cantiga antes de eleições (lembro-me das paixões, efemeridade, portanto, do chefe de governo anterior) até que, palavra de honra, a democracia sairá embrutecida à rua (ler o enojado artigo, ainda assim útil q.b., de Vital Moreira).
Este amargo de escrita tem duas derivações próprias: algumas páginas do jornal Público e as notícias das 20.00 da TSF.
A primeira referência diz respeito à página 9 do referido jornal, com publicidade institucional que o governo faz a/de si próprio; não sei quem paga o "reclame", mas que fique desde já esclarecido que eu não quero que o dinheiro dos impostos que pago sirva para este exercício do si. O que mais espanta, porém, por entre e sob o lema "Um Governo de Palavra", em que são visíveis as putativas palavras já cumpridas, são as referências ao Ministério da Educação: (sic) "-Revisão curricular do Ensino Secundário
- Revisão do Ensino Profissional
- Reforma do Ensino Recorrente
- Alteração da Revisão Curricular do Ensino Básico
- Proposta de Lei de Bases da Educação."
O choque é enorme, como se calcula já, e questionámo-nos logo se não estaremos ensandecidos. O raciocínio é do mais simples: em quatro pontos, três já se tinham iniciado, pelo menos, em dois governos anteriores e, se se reparar bem, desaguam na Lei de Bases da Educação de 1986 e nos subsequentes articulados de 89, 91 e 97, logo, a única medida realmente efectuada foi a reforma do Ensino Recorrente. Curioso é que mesmo essa única medida nada tem de original, mas antes de preventivo, perante os casos provados de currupção de acesso ao Ensino Superior. Curioso também, até por estar temporalmente próximo, foi o governo não se ter enaltecido e feito um exercício do si do novo regime de concurso e colocação de docentes (e indivíduos!).
Se isto foi feito em dois anos, o que poderemos esperar dos outros dois?
Isto passou-se com as notícias da manhã. As da tarde, finda a reunião de balanço governamental, ouvi o Primeiro-Ministro dizer que esperava que até 2010 o número de desistências do Ensino Secundário pudesse baixar. Ora, isto deixa-me intrigado. Ainda há pouco tempo, o governo anunciava a obrigatoriedade da frequência do Secundário a partir do próximo ano lectivo. Se assim é, os anúncios do Primeiro-Ministro são decorrentes dessa vontade legislativa ou, que é o que melhor se me afigura, não têm política educativa e é para fazer de conta que se está a fazer algo benéfico pelas gerações vindouras?
O problema miserável com que nos debatemos não está na elencagem das necessidades, mas em prospectar dividendos de uma sociedade futura e, sobretudo, coragem legislativa e política pela educação.
O problema que desespera, todavia, é não ver alternativas algumas!
Pergunta: vale a pena comemorar o dia de hoje? E afinal, por conhecermos as reprováveis atitudes sociais da oposição, que idade tem o 25 de Abril?