Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

21.7.04

Os cursos não têm saída profissional, mas a Universidade deve alhear-se do facto

A consternação aconteceu na pretérita terça-feira. Numa altura em que Presidência da República, Governo e sociedade civil elencaram já os malefícios de que padece a Educação, esperava-se a qualquer altura, ainda se espera, que apareça alguém com propostas e linhas de acção viáveis para a Educação - volta, Veiga Simão, estás perdoado!
Um dos pontos recorrentes respeita o reduzido número de alunos que existe nas universidades. Por esse motivo, Universidades públicas e privadas reestruturam os seus cursos, estudam as saídas profissionais que os mesmos implicam, aventam a necessidade social de alguns dos cursos ministrados, etc, etc. Ao contrário do parasitismo de décadas em que cursos havia sem que se atendesse às reais necessidades do País, a Universidade está já alerta e alertada para esse facto e movimenta-se para o contrariar.
Não é de estranhar por isso as notícias que dão conta de cursos a fechar ou a sofrer profunda reestrututação. Ora, sucede que na Faculdade de Letras do Porto... em entrevista ao JN, fica a saber-se que aquela instituição vai abrir novos cursos de línguas. Olhando o guia de candidatura para o ensino superior, repara-se que as vagas por curso e variante diminuíram (parece-me mesmo que alguns desapareceram, em nome da tal viabilidade profissional, nomeadamente nas áreas de profissionalização educativa).
A responsável pela abertura dos novos cursos - unilingues! - diz saber das dificuldades das saídas profissionais, coisa e tal, bla, bla, dando a entender que à faculdade isso não deve interessar e que deve formar, na base da excelência académica e apuramento intelectual, pessoas que depois se possam integrar noutras profissões.

Como disse?

A mesma faculdade prepara-se para abandonar o modelo clássico de profissionalização docente - um núcleo de estágio de quatro docentes coordenado (quase sempre mal) por orientadores de estágio e supervisionado por metodólogos da referida instituição. A via educacional fica entregue à escolha dos discentes que terão que enviar curriculo e proposta para as escolas, por forma a ser-lhe ministrado estágio pedagógico (da competência da escola!). A desculpa, perdão, a justificação é a de se seguir o modelo já existente na área da tradução.
Pois claro.
O Zé quer profissionalizar-se e os seus pais leccionam da Secundária de XXXXXXXXXXX. Ah! Tem também uma tia a leccionar na EB 2/3 de yyyyyyyyyyyyy. Assim, só gasta dois selos! Ou então pode pedir aos familiares que entreguem a proposta em mãos. E que lhe digam já a nota final.
Parece-me que isto tem um nome, mas com o adiantar da hora não me ocorre.

Não digo nada!