Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

26.9.05

Alfabeto, abecedário e abc

Um amigo, a propósito do post "Ribeiro e Castro e o furacão Sócrates", chamou-me a a tenção por o alfabeto português conter as letras K, W e Y, ao que imediatamente retorqui que não, que só tinha 23. Como insistisse, fui obrigado a enviar-lhe isto:

[Diz uma gramática, IV, escrita e Ortografia]

1) As letras: o alfabeto
Os fonemas são representados, na escrita, por letras [é uma incorrecção dizer-se isto, mas enfim]. Constituem o alfabeto, também chamado abecedário ou abc.
Existem 23 letras no alfabeto português.
(...)
Nota 2: em livros, revistas e jornais, vemos às vezes escrito o K o W e o Y. Com efeito, na escrita de nomes próprios estrangeiros ou palavras deles derivadas, e também em abreviaturas, siglas e símbolos, justifica-se o emprego destas letras.

Na realidade as gramáticas são duas, a do Lindley Cintra, académica e a Gramática de Português de José Castro Pinto da Plátano Editora, mais escolar, de 1994.
E mesmo antes da resposta, insisti com isto:

K, s. m. (do Germ. ou Gr K)
1) Foi a undécima letra do alfabeto português hoje proscrita de todas as palavras portuguesas ou aportuguesadas e substituída pelo c ou pelo grupo qu, mantendo-se, porém, em nomes próprios estrangeiros em que ela figura, ou nos seus derivados.
2) Fís. símbolo que indica certas quantidades constantes ou coeficientes.
3) Quí. símbolo do potássio.

W, s. m. 1) Letra estranha ao alfabeto português, entre nós conhecida por dábliu, vê dobrado e vê duplo. Tem uso em algumas palavras derivadas de nomes alemães, ingleses e, mais raramente, polacos. Soa como v nas palavras derivadas do alemão e polaco e u nas derivadas do inglês.

Y, s.m. (ípsilo ou ípsilon)
1) Antiga vigésimo quarta letra do alfabeto português usada na transcrição latina do símbolo de etimologia grega, como consoante (mayor); como tónica dos termos oxítonos (mandovy); como indicativo da subjuntiva de ditongos e como representação de uma vogal especial do dialecto tupi-guarani. Em todos estes casos foi feita a proscrição do y, símbolo introduzido no latim como tentativa de fixação, nessa língua, da pronúncia do ípsilo grego, que o povo continuou a fazer corresponder o i, até ser reduzido, no latim, a pouquíssimas palavras de origem grega.
Em português só tem uso em vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros escritos com y.
Moderno Dicionário da Língua Portuguesa - Lexicoteca, 1994


Post paulo, fui atingido com isto, com comprovação aqui, aqui e, aqui:

Anexo 1Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)
BASE IDO ALFABETO E DOS NOMES PRÓPRIOS ESTRANGEIROS E SEUS DERIVADOS
1º) O alfabeto da língua portuguesa é formado por vinte e seis letras, cada uma delas com uma forma minúscula e outra maiúscula:
a A (á) (...) z Z (zê)

Obs.:
1. Além destas letras, usam-se o ç (cê cedilhado) e os seguintes dígrafos:
rr (erre duplo), ss (esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u) e qu (quê-u).
2. Os nomes das letras acima sugeridos não excluem outras formas de as designar.
2º) As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais:
a) Em antropónimos/antropônimos originários de outras línguas e seus deriva­dos: Franklin, ftankliniano; Kant, kantistno; Darwin, darwinismo: Wagner, wagneriano, Byron, byroniano; Taylor, taylorista;
b) Em topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados:
Kwanza; Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano;
c) Em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso internacional: TWA, KLM; K-potássio (de kalium), W-oeste (West); kg-­quilograma, km-quilómetro, kW-kilowatt, yd-jarda (yard); Watt.
3º) Em congruência com o número anterior, mantém-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas ou sinais diacríticos não peculiares à nossa escrita que figurem nesses nomes.


Afinal, em que ficamos? Há, de facto, no alfabeto português apenas 23 letras como teimo, defendido por Lindley cintra (edição posterior ao acordo ortográfico), ou tem razão quem se defende com o acordo ortográfico - ferramenta útil para a Lusofonia -, apontando a inclusão das letras K, W e Y, perfazendo 26 letras?
Dou uma resposta, retirada do site Ciberdúvidas: "(...) O novo acordo taxativamente inclui estas letras no nosso alfabeto, embora continuem a não figurar nas palavras do léxico considerado de língua portuguesa."
Conclusão: para os gramáticos há 23, para todos os outros...