Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

18.9.05

Do metropolitano do Porto

A Estação da Trindade


Porto Trindade A general view of Porto Trindade looking south from over the tunnel mouth during the evening rush hour in July 1970. A 2-6-0T sets off from the station and two 0-4-4-0T's wait with trains in the station. An Allan railcar set waits in the sidings to the right.
Taken: 31 December 1969Copyright: James Waite
Daqui se parte para os arredores do Porto situados a Norte da cidade, como a Senhora da Hora, Pedras Rubras (com o aeroporto a precisar de eternas reformas), Mindelo, Vila do Conde ou Póvoa do Varzim, Famalicão e, em querendo, Guimarães, se se atravessarem as latadas que ladeias os carris por volta de Vila das Aves e Vizela. Entre Famalicão e a Trindade demora a pequena viagem cerca de duas horas e meia; se for para Guimarães, também quase o mesmo tempo será, ainda que, a partir da Senhora da Hora o carril seja já outro, e em direcção a Santo Tirso, depois da Maia e da Trofa, lugares de passagem.
Deve ver-se esta estação, que uns dizem ser feia só porque faz a via suburbana - gente que trabalha e chega no primeiro comboio às seis da manhã ou pouco mais, vinda de Santo Tirso, ou parte no primeiro comboio, às cinco e meia. A neblina do Inverno, e a chuva quase permanente no Porto em determinadas alturas do Outono, dão à Trindade um ar triste e desolado, cansado e longínquo, como paisagem destinada a não ser usufruídas mas esquecida. No entanto, à partida para as praias de Vila do Conde e Póvoa de Varzim (e, daí, querendo, para A-Ver-o-Mar e seguintes...), em pleno Verão, é de outro brilho, claro.
Porto Trindade 2-8-2T E144 arrives at Porto Trindade station during the evening rush hour as 0-4-4-0T E161 prepares to leave. August 1970.
Taken: 31 December 1969Copyright: James Waite
Seria Ruy Belo um dos viajantes em busca de Vila do Conde, nos longínquos anos da sua poesia? Imaginemo-lo a partir, o poeta, sentado num banco deste comboio em automotora por volta do meio-dia e meia de um dia de Verão, na Trindade, para depois chegar a Vila do Conde, sobre o Ave, uma hora depois. Teria entretanto escrito um poema para desmistificar os que não gostam desta estação? às vezes, como se sabe, ficam memórias imaginadas, se formos aVila do Conde ver Ruy Belo já desaparecido, sentado sobre um dos muros do Ave, ou passeando lentamente, no fim da tarde da pequena estrada que leva, junto ao mar, até à Póvoa do Varzim, estendendo-se pepois até A-Ver-o-Mar entre dunas e pinhais, até ao riso de uma manhã de Sol que começaria irremediavelmente na Trindade, se à praia quiséssemos ir, evidentemente - ou nem isso.
VIEGAS, Francisco José e ABREU, Maurício, Comboios Portugueses, um guia sentimental, Círculo de Leitores, 1988, p.70