Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

20.10.05

O que querem, afinal, os professores?

É o mote de uma carta de um leitor do JN - infelizmente indisponível on-line - que merece algumas considerações.
Começa a ser já uma ideia desgraçada atacar a classe docente, sem conhecimento de causa, o que é, clara e manifestamente uma postura generalizada.
Vejamos: na dita carta, o senhor João do Porto diz que em países estrangeiros o acesso à carreira é restrito; não diz é que países são. Depois, ou antes, escrevo de memória, diz que nos países europeus se trabalha 40 horas semanais; não diz é que países são; também se refere a reformas avultadas; de quem, sr. João? Insiste, de modo grosseiro, nas regalias e acentua a incompetência da generalidade, senão mesmo toda a classe docente. Pelo meio ainda nos insulta, dizendo que nos países europeus há exames que comprovem a sanidade mental e apuro físico! Termina com uma pergunta retórica, aquela que titula o post.
Eu respondo-lhe:
1) Queremos, desde a faculdade, professores capazes e responsáveis, quer cientifica quer pedagogicamente;
2) Aquando da profissionalização, queremos orientadores de estágio com mais de 40 anos de idade, responsáveis, com atestada sanidade mental, perfeita e completamente integrados na sociedade e que tenham feito estágio integrado igual ou equivalente ao que orientam;
3) Ainda durante a profissionalização, que os metodólogos tenham leccionado numa escola pública pelo menos até cinco anos à data da avaliação dos estagiários;
4) Do governo, espera-se que sejam capazes de promover programas pertinentes à sociedade que os acolhe, prevendo, nesses mesmos programas, abertura suficiente para prever e promover divergências regionais;
5) Que tratem os profissionais da educação como detentores de curso superior que têm e lhes reconheçam o direito a ser-lhes criada uma ordem profissional;
6) Que dotem as escolas de condições mínimas de segurança e higiene, para professores e alunos;
7) Que dotem as escolas com materias didácticos mínimos, nomeadamente nas ciências exactas com laboratórios apetrechados e gabinetes de fonética para as línguas;
8) Que permitam que as escolas possam afrontar as bibliotecas municipais;
9) Que nos concursos permitam uma aproximação mais rápida da área de residência (os professores não são ermitas);
10) Que para aqueles que leccionam longe de casa e da família lhes sejam dados benefícios sociais - tal como existem para os médicos: habitação a baixo preço, subsídios de deslocação, possibilidade de os filhos entrarem directamente para a faculdade onde os pais leccionam, etc.;
11) Melhorar significativamente o salário;
12) Acabar com a escola democrática, onde são os alunos que ditam as regras;
13) Excluir alunos mal-educados, prepotentes, arrogantes e petulantes do ensino (não confundir com crises de adolescência;
14) Acabar com mandatos nos conselhos executivos superiores ao do PR;
15) Obrigar os pais/encarregados de educação a ir à escola sempre que chamados ou para as reuniões de pais - os pais devem ser os primeiros a responsabilizar-se pela educação dos seus filhos e não a abandoná-los na escola;
16) Permitir que os professores se preocupem apenas com a programação/planificação das competências que os alunos devem e têm que atingir;
17) Libertar os professores de tarefas de secretaria: matrículas e horários;
18) Limitar as reuniões na escola ao mínimo necessário: a escola não é um clube;
19) Obrigar a pagamento de coima a todos os que falam de escola e professores sem conhecimento de causa (...)
Estas são apenas algumas "reivindicações".
Para o sr. João e todos os joões lerem e pensarem. Só digo mais isto: se fosse mal educado, mandava-o à merda, sr João, como não sou...