Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

19.10.05

D. Pedro e Inês de Castro

E Dona Constança? Esta é a pergunta que nunca se faz, infelizmente. Vem isto a propósito de um comentário de uma colega de Português, relativamente à série de 13 episódios - quanta ousadia na delimitação pelo número cabalístico! - que passa no canal 1 da RTP, sobre a "maravilha da nossa cultura e do interesse para as nossas aulas".
O episódio "trágico", terminado (?) com a morte da espanhola Inês às mãos dos carrascos de D. Duarte IV, POR RAZÕES DE ESTADO, extrapolou da mera relação física, com a qual nada temos a ver, entre um esquizofrénico de nome Pedro, futuro rei de Portugal, e uma rameira e espia de nome Inês. Nada de especial nem nada que não se tenha lido sobre a época.
Sempre que ensino o epidsódio, desmistifico essa tendência romântica e redutora junto dos meus alunos e trato é de ir à literariedade das poesias de Camões e Garcia de Resende ou à Carta de Anrique da Mota (ou à contemporaneidade de Herberto Hélder, por exemplo).
Perguntei à colega se sabia isso mesmo, da esquizofrenia de Pedro e das verdadeiras motivações de Inês; ficou chocada, é provável que não me dirija mais a palavra. Então berrei: e Dona Constança? Não faz mal ser traída ou sofrer de amor?
Pode ser interessante ver a série agora em exibição; o que não é interessante nem é uma postura inteligente é tomar a lenda por questões factuais. Eis uma boa oportunidade para elucidar os nossos distraídos alunos...