Caligrafia do Olhar
Sorriso moreno, cabelo escuro comprido - duma sensualidade muito rara -, olhos amendoados e mimalhos, lábios férteis, dentes correctos, mãos de veludo com unhas geometricamente tratadas, pele de tarde de Verão, voz de vento animador, gestos exactos envolventes, postura delicada e distraída. Há um ano. Saiu do café, fitou-de, olhou-me a chorar compulsivamente. Saiu em espasmos. Fui atrás dela, mas não a alcancei. Soube do que se passava. Iria naquela tarde ser operada. Perdi uma entrevista para uma turma numa escola. Comprei-lhe um livro. Dei-lho o título Caligrafia do Olhar. Fui ter com uma amiga e pedi em soluços, sou tímido, que lho fizesse chegar. Há um ano. Reapareceu em Dezembro. Boa-Tarde! Desde aí é sempre boa-tarde. E ganhei uma amiga. E ela deixa-me que os nossos olhos se seduzam. Vivo melhor, vivo cumplicamente em segredo. Há um ano, todos os anos. |
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