Educação accionária

Manifesto plural e não democrático pela acção da/na educação.

30.4.04

Educação em Portugal, três pequenos apontamentos

Primeiro apontamento
O Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, vai promover, a partir da próxima terça-feira e durante cinco dias, a "Segunda Semana da Educação", tal como pode ser lido aqui.
A iniciativa em aparência é louvável, mas, perante uma análise mais contida é evidentemente reprovável. Desde já, por a "Primeira Semana da Educação" ter sido em 1998, há seis anos, portanto; depois, porque esta iniciativa surge como um favor que se presta à classe docente (internos, externos e indivíduos, consoante as opções do concurso havido há dois meses), ao chamar para si as atenções da generalidade da opinião pública e publicada e relançar o debate sobre educação/educativo em vésperas da saída dos resultados do concurso; segue-se o esvaziamento accionário da função republicana maior que o Dr. Jorge Sampaio exerce ao não fazer mais do que a elencagem dos problemas de que padece a Educação do nosso País: como já aqui escrevi anteriormente, todos, dos actantes educativos, passando por legisladores, legalistas e teóricos da educação, até à generalidade da população, sabemos quais os problemas que actualmente existem. Esperava-se que o PR tivesse ideias e propostas concretas e as transmitisse. Ao relevar apenas, torna-se aliado do Governo e inimigo da Educação.
A postura do Dr. Jorge Sampaio tem sido, infelizmente, sempre esta: discursos em aparência interventores, mas esvaziados de pragmatismo os linhas programáticas de acção; perdemos nós por não saber produzir um enunciado político-social integrador - a fragmentaridade política eneltece pontualmente o seu patrocinado, mas não permite a construção de um enredo político abrangente e progressista.
De qualquer modo, fica aqui o programa.

Terça-feira, 4 de Maio:
A realidade urbana, e mais concretamente a suburbana, tem como território a Amadora, freguesia da Falagueira."A integração Social e Educativa "é o mote da primeira jornada;
Quarta-feira, 5 de Maio:
Idanha e Castelo Branco, no interior, servirão para medir as diferenças entre a cidade e o campo. A "formação pro fissional e prevenção dos abandonos" estarão em debate;
Quinta-feira, 6 de Maio:
Castelo Branco, Paços de Brandão e S. João da Madeira. Zonas de transição, onde se discutirá a "educação ao longo da vida";
Sexta-feira, 7 de Maio:
No Porto, a "qualidade de ensino" será o tema.Visitas, por exemplo, à Escola 2/3 de Paranhos;
Sábado, 8 de Maio Porto. No último dia, a "qualificação da escola pública" será o tema final de um debate na Fundação de Serralves.

Segundo apontamento

Continuando a ler o JN, em papel e on-line, continua a ler-se os habituais disparates daquele matutino. Não sendo culpa sua exclusiva, esperava-se maior atenção. Assim, nesta notícia, o título "Professores e educadores precisam trabalhar juntos" é um equívoco. Os professores são já, ou devem sê-lo, por força das suas próprias convicções, paradigmas educativos e sociais a que estão ligados e por pressão social, educadores- começam por ser educadores a priori, aliás. Por isso, no decurso do texto da notícia, que tem algo de corporativo, pois não há referências a estudos que comprovem, por exemplo, a afirmação de Aldina Frias ("a nível da literacia, está provado que a criança que tenha frequentado pelo menos um ano de Pré-Escolar pode entrar no 1.º ciclo com uma abertura para a aprendizagem que outra criança que não o tenha feito consegue"), aos pré-primários deveria chamar-se socializadores e nunca, por arrogência ou importância que não têm, professores ou educadores.

Terceiro apontamento

Rui Trindade, da FPSEP, ao falar da "necessidade de se distinguir entre saberes que podem ser objecto de ensino e os que só podem ser objectos de aprendizagem", por forma a levar "à construção de projectos curriculares de escola e turma, assim como permite abordar a articulação entre competências e conhecimentos de forma produtiva", mais não faz do que alertar para os vícios que reinam na escola (e confusões) relativos ao desenho curricular que teima em não ser posto em prática, por culpa do seu desconhecimento por parte dos actantes mais importantes da escola.

Obras de arte desaparecidas vs 25 de Abril

Reparei que por altura das comemorações do trigésimo aniversário do 25 de Abril andavam uns senhores a ver quem tinha o cravo na lapela, para, depois, nos jornais colectivos, lhes chamarem fascistas e reaccionários. Ora, apenas duas coisas: o verdadeiro dia da liberdade é a 25 de Novembro e sobre isto nunca nada disseram e é pena, pois é um pouco do nosso património (país) que desaparece...

HYMNE À LA BEAUTÉ

Viens-tu du ciel profond ou sors-tu de l'abîme,
Ô beauté ? Ton regard, infernal et divin,
Verse confusément le bienfait et le crime,
Et l'on peut pour cela te comparer au vin.

Tu contiens dans ton œil le couchant et l'aurore ;
Tu répands des parfums comme un soir orageux ;
Tes baisers sont un philtre et ta bouche une amphore
Qui font le héros lâche et l'enfant courageux.

Sors-tu du gouffre noir ou descends-tu des astres ?
Le destin charmé suit tes jupons comme un chien ;
Tu sèmes au hasard la joie et les désastres,
Et tu gouvernes tout et ne réponds de rien.

Tu marches sur des morts, beauté, dont tu te moques ;
De tes bijoux l'horreur n'est pas le moins charmant,
Et le meurtre, parmi tes plus chères breloques,
Sur ton ventre orgueilleux danse amoureusement.

L'éphémère ébloui vole vers toi, chandelle,
Crépite, flambe et dit : bénissons ce flambeau !
L'amoureux pantelant incliné sur sa belle
A l'air d'un moribond caressant son tombeau.

Que tu viennes du ciel ou de l'enfer, qu'importe,
Ô beauté ! Monstre énorme, effrayant, ingénu !
Si ton œil, ton souris, ton pied, m'ouvrent la porte
D'un infini que j'aime et n'ai jamais connu ?

De Satan ou de Dieu, qu'importe ? Ange ou sirène,
Qu'importe, si tu rends, - fée aux yeux de velours,
Rythme, parfum, lueur, ô mon unique reine ! -
L'univers moins hideux et les instants moins lourds ?

Les Fleurs du Mal (XXI) -seconde édition - Charles Baudelaire

[obs. este poema deveria ter sido inserido no blog colectivo de Português/Francês, sucede que os senhores do Sapo andam a brincar com os clientes há já dois meses e eu, pela minha parte, das últimas três vezes que tentei aceder à página de gestão...nada! As minhas desculpas a C.A.P e Jacky...]

29.4.04

A Mãe

Mãe Vem Ouvir

Mãe!

Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me ao teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero Ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

José de Almada Negreiros
A INVENÇÃO DO DIA CLARO, LIRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, LISBOA, P. 95

Por acaso ninguém me quer oferecer este livro...?

(Por falar em maternidade, uma amiga aconselhou-me a ir ver este filme.)

Pinóquio é o democrata Pravda!

Este jornal, tem este artigo on-line que é ofensivo para todos nós, cidadãos portugueses.
É obrigatório lê-lo! Depois, contactemos o webmaster do Pravda para lhe dizer que o Pinóquio é nosso, e só nós o poderemos maltratar!
Já viram a arrogância? Bah!
Alguém que me explique o motivo por que o Pravda (assim-assim democrata) tem edição on-line em Português sobre a Lusa Pátria e suas ex-colónias...

É por aqui, é por aqui!

Há já mais de uma semana que não actualizo este blog, pois estou estarrecido, imobilizado e receoso pela minha integridade mental e moral perante os recentes acontecimentos havidos cá no nosso burgo.
Nunca quis, todavia, consentir que a pena secasse e nada mais escrevesse ou, genuína, espontânea e ingenuamente, fosse opinanando sobre a deseducação social, bestial e grosseira.
Falo, como parece ser óbvio, da corrupção generalizada de figuras públicas ou detentoras de cargos públicos, do compadrio instalado, do corporativismo legalizado, do facilitismo pragmatizado (inventei agora o adjectivo participial), da incompetência laboral aceite, dos falsos ídolos criados e louvados - nojo pelas comemorações, algumas, do/sobre os 30 anos do 25 de Abril!
Já não leio jornais, pouca televisão vejo, não falo à mesa de café sobre as "notícias do dia", não vejo desafios de futebol e não acredito, não acho, nem me parece que a FPF represente Portugal; o que faço, sim, é recuperar pela Literatura, pela música e pela pintura o rumo normal da existência humana - felicidade e transcendência (que não é feita pela via expiatória...), solidariedade e disponibilidade para estar, simplesmente estar, pessoal e plural, respectivamente.
Esta notícia ainda me faz acreditar que os caminhos desviantes podem ser corrigidos.

18.4.04

"eu quero saber de telemoveis de primeira geracao pode ser?" - pergunta o Ministério da Saúde

Eu não sei quem foi o eu, mas ao consultar as visitas feitas a esta página, descobri que alguém do MINISTÉRIO DA SAÚDE, no dia 16 do corrente mês, pelas 2:17:52 procurou através do motor de pesquisa google.pt por "eu quero saber de telemoveis de primeira geracao pode ser?"
Não, não pode! Vá procurar no seu computador ou dirija-se a uma loja de telemóveis e pergunte tudo o que quer saber! E mais: esta página não vende telemóveis, só se debruça sobre questões educativas...!
Para além de ser uma frase mal construída, pergunto-me se os computadores do MS servem/estão destinados para este tipo de "actividades"; acreditando que não servem/estão destinados, fica aqui o meu profundo e veemente protesto por tal utilização abusiva.

Eis o texto

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100 Anos

Dia Mundia do Monumento

Biblioteca do Conhecimenteo Online

Abre na manhã da próxima terça-feira. http://www.b-on.pt

15.4.04

Fundamentação didáctico-pedagógica (um esboço parcialmente definitivo encontrado acidentalmente num CD)

Fundamentação didáctico-pedagógica

Por insistência de uma amiga, que os anos souberam manter, sucedia-se-me uma quase peregrinação quotidiana à sua doença. Numa dessas visitas póstumas, como não houvesse já poesia para ser dita, fui convidado para integrar a sua irmandade, restritíssima!, devendo então escrever um qualquer dito, ou escrito, que seria colocado na porta do seu quarto. Perante a insistência dos meus débeis protestos, pois que esvaziasse o espírito de pré-conceitos, que me permitisse a sublimação verbal, que francamente me perscrutasse como narciso... e eu fi-lo. No placard, ainda hoje, ficou o registo, a tinta verde, “Incubus est surréaliste chez les femmes”.
Tenho um gosto especial em relembrar esta história, uma espécie de fait-divers, pois acalenta-me frequentemente a esperança de que a vida pode ainda ser resgatada das entranhas vomitadas da racionalidade e que pode francamente ser o sonho sonhado de pelúcia e aragem verde, que pode ver em mãos marinheiras o lastro poético da humanidade, que crianças pedirão para ser declamado...
Bem sei, o propósito deste meu esforço de escrita, de um exercício de estilo, subversivo, é certo, mas conceptual, profundo e desinteressado pelas questões que se seguirão, tem que ver com a minha própria implicação, a poesia, e com uma determinada justificação (?) lectiva.
Qual antecede qual? Em verdade, qual interessa para a defesa das aulas em que estarei presente? Não sabendo responder objectivamente às próprias questões que (me) coloco – nem sabendo tampouco se algum dia poderei respondê-las – alistar-me-ei às investigações canídeas de Kafka e prosseguirei, assim, à procura de O osso para lhe poder chupar o tutano e, daquela forma, encerrar em mim as chaves que me permitam abrir as portas de todo o conhecimento humano.


Só o meu actual cansaço faz com que redija assim, mas tenho uma necessidade absoluta de me situar num espaço e num tempo que não são os meus; ou seja, procuro a absolvição de uma dimensão educativa que me transcende e da qual naturalmente desconfio. Muito caminho foi já traçado, muitos atalhos foram percorridos com os alunos até si; pelos “meus” alunos fiz esse enorme esforço de compreensão e de aplicação. (A impressão com que fico, neste momento de silepses e analepse da narrativa em que me escolheram para protagonista, é a de que a demência se apresentará breve.)
Claro que, como se compreende, só quando fui e estive convicto do que dizia e do que juntos dos alunos promovia pude aferir da construção dos seus sentidos cognitivos/emotivos – porque estava lá ou porque tinha preparado uma ficha de avaliação escrita.
Atente-se no que escrevo: convicção. A convicção, quando convidada a aparecer, muito bem vestida, na sala de aula pode criar os tais mecanismos facilitadores de aprendizagem de que os programas tanto gostam de apelar. Claro que a preocupação primeira e última são os alunos que se nos perfilam, mas a convicção permite-nos o gosto de transmitir/criar conhecimentos; desde logo se afasta a hipocrisia de um discurso que não é nosso, mas que o tentamos tornar sustentável.
Será legítimo perguntar, portanto, após estas breves considerações, de que forma as aulas foram pensadas para os alunos, e, já agora, o que vai ser ensinado.
Antes porém... os programas. Os programas de francês para o Ensino Secundário contemplam, nos seus objectivos gerais, o aprofundamento de «valores, atitudes e práticas que preparem intelectual e afectivamente os jovens para o desempenho consciente dos seus papéis numa sociedade democrática». Mais à frente, tentando pormenorizar, num subtítulo pomposo, mas ambíguo e vazio – “Domínio das aquisições fundamentais para o desempenho de papéis socialmente úteis” – pode também ler-se que compete ao referido grau de ensino “facultar aos jovens conhecimentos necessários à compreensão das manifestações estéticas e culturais e possibilitar o aperfeiçoamento da expressão artística”.
Ridicularizando o “aperfeiçoamento da expressão artística” (embora polulem artistas no nosso sistema educativo...), todas as citações defendem a acção performativa que pretendo para as aulas de regência.
Por ora, parece não haver dúvida do quão penso ser importante o modo lírico e de que forma estou convicto relativamente a um discurso que já tomo (sempre tomei, aliás) como meu. Mas este, nomeadamente, a poesia (melhor seria dizer estética ou ética), não se confina unicamente a uma postura única de literariedade. Não se fecha em si próprio, nem implica o fechamento estético de quem, um dia, consigo passeou nos boulevards parisienses.
Manifestações estéticas, seguramente, mas em que medida se podem incluir as culturais e sociais?
A escolha de um poeta como Éluard não foi ingénua. Seguramente, importará ver na sua poesia (alguns poemas representativos, embora não os mais simbólicos) as coordenadas de uma certa feminização, estabelecer um determinado percurso semântico, ter olhos férteis para ver nele a ligação a um modelo renascentista, pese embora a marginalidade da sua opção estética.
Mas Éluard não existe fora da história. Desde 1895, ano do seu nascimento, até ao de 1952 a própria história se encarregou de transformar a humanidade; não nos podemos esquecer que a própria vida de Éluard está ligada, primeiro, ao desabar do edifício humano e, posteriormente, à fé, esperança e caridade. As duas grandes guerras, participou na primeira, intervaladas pela Guerra Civil Espanhola e secundadas por tantos conflitos sociais: em Itália, onde fez a apologia da sua ligação comunista, e na guerra civil grega, onde foi mediador.
O próprio movimento surrealista foi ao mesmo tempo carrasco e fiel servidor de uma causa alheia; foi também, sem o querer, por certo, tão contraditório como os homens que o edificaram: pretendendo ser uma ferramenta de libertação para as massas, nunca se lembrariam que elas não sabiam ler e estavam mais ocupadas em sobreviver do que especular e inocular novas estéticas. Homens de acção, claro!, activistas políticos e militantes, só um deles conseguiu unir-se completamente à natureza: Paul Éluard. Mais até do que uma literatura feminina, há uma criação de uma emoção feminina perante a natureza; mais do que este porto de abrigo final – de que Nusch é apenas o exemplo mais perfeito -, a poesia de Éluard libertou-se das amarras inconsequentes de um surrealismo dadaizante e cantou como poucos a cumplicidade e a solidariedade humanas. Liberdade, claro.
Ora, serve Éluard, finalmente, para, ao estudar-se a sua poesia, elucidar os alunos sobre um determinado período histórico-literário, cuja importância ainda hoje prevalece. Não importa tanto os mecanismos reais do pensamento, mas o pensamento que se teve para impulsionar, arrancar, a humanidade do estertor guerreiro em que se encontrava.
Serve Éluard, sobretudo, para transmitir uma determinada emotividade poética (humana?) junto dos nossos alunos. Serve para provar, ainda, que há homens que merecem o respeito dos seus pares e que os aceitam na resolução dos seus problemas. Serve ainda para provar que a amizade não conhece limites (Éluard e Marx Ernst foram oponentes durante a primeira grande guerra, na mesma batalha...).
Nestes sentidos, Éluard, leiam-se os textos anexos, é um homem do renascimento.
As aulas que idealizei, como não poderia deixar de ser, terão um cheirinho subversivo; é compreensível, agora, o lírico primeiro parágrafo: há vícios que me habitam, e ler Éluard, até como exemplo surrealista e fonte poética/ética, é um deles.
Vai uma conferência? Claro que sim! Ler poesia como se de um público verdadeiramente interessado se tratasse é o propósito inicial. Ousarei permitir-me representar Éluard, esperando responder a questões de índole bio-bibliográficas (aproveitando, como se compreende, para, falando de mim, Éluard, referir-me ao próprio movimento surrealista e às coordenadas já enunciadas).
Ler poesia, no entanto, está para além do propósito, já normal em mim, de sensibilizar almas adolescentes (leia-se: criar apetência pela estética ); permite ainda, ou sobretudo, resgatar uma determinada gramática receptiva, de que só a macroestrutura e a superestrutura emergirão durante as aulas. Quanto à primeira, pode ser vista já na primeira aula. Para além da conferência, os alunos devem ler um texto crítico e confrontar as suas principais coordenadas com a poética (da última fase, digamos assim) de Éluard; a segunda, porque será necessário, a inversão é voluntária, integrar o autor e a sua obra numa determinada corrente estética.
A integração de que falo deverá prever, para além da aparência lectiva, ou performativa, a construção de um caminho para a autonomia: trata-se de investigar individualmente, mas não solitariamente. O que se pretende? Que os alunos possam saber identificar o conceito de surrealismo, as suas delimitações estéticas, os elementos constitutivos, vindos ou não do dadaísmo, o principal mecanismo de aplicação (escrita automática, cadavres exquis), etc... Claro que questões, referidas de modo abrangente, serão propostas aos alunos. De qualquer modo, importa referir que lhes serão facultados livros e mesmo um computador portátil (páginas previamente gravadas da Internet) para que possam proceder à sua pesquisa. Essa criação da autonomia deverá permitir-lhes a exposição dos seus argumentos perante os restantes colegas.
Acredito plenamente que se seguir este caminho poderei legitimar em aula os objectivos gerais consignados em aula e, mesmo sabendo que não cumpro deliberadamente os quatro domínios da praxe exaustivamente, contribuo seguramente para a promoção da meta-cognição (reconheço que estava a demorar: permito a redução eidética husserliana...) de cada um dos discentes presentes.
Acredito também, mesmo se a aparência mostra o inverso, que há caminhos que apostam claramente na centração da aula no aluno. Competir-me-á dosear os papéis e saber claramente indicar tarefas.

6.4.04

Orientadores de Estágio ou a nulidade profissional e pessoal

O título resume, ainda que grosseiramente, o que penso de orientadores de estágio, por acreditar serem criaturas desfuncionais social, mental, física, educativa e profissionalmente.
Não sabendo leccionar, na maioria das vezes, procuram o conforto fácil de redução de horário e exultam em vaidades incontidas por receberem mais uns troquitos no final do mês. Tendo a seu cargo um grupo de estagiários que levam muito a sério a sua vocação, obstacularizam a sua aspiração lectiva e obrigam-nos a repetir até à exaustão esquemas taxinómicos desusados e anacrónicos. São frequentemente vistos na sala dos professores a ministrar cursos de pedagogia e a avaliar aulas, nunca são vistos nas faculdades, por convites dos metodólogos, porque não têm subsídio de deslocação ou representação. Aparecem ainda em todas as actividades extra e intra-curriculares, por acharem que lhes é assim dada visibilidade na comunidade escolar. Não admitem ser corrigidos ou, simplesmente, ouvir outra opinião - sabem tudo!
Este é apenas um pequeno resumo.
Está aberto o convite para dizeres o que pensas destas aves raras sabedoras, até podes contar uma história e tudo. Eu dou o mote: quando iniciei o meu estágio pedagógico (integrado) tive um senhor orientador de francês que de estágio só o tinha visto por correspondência e... não sabia falar francês!

Educação: anos perdidos que nunca mais se vão recuperar

Já não vale a pena dizer ou escrever sobre os padecimentos da Educação: está mal, péssima, moribunda e precisa urgentemente de uma profunda, brutal e imediata incisão accionária. O que acabei de escrever é uma óbvia desconfiança sentida pela populaça e pelos nossos governantes e um dogma para os agentes educativos - agentes, não pacientes!
Será sempre a mesma cantiga antes de eleições (lembro-me das paixões, efemeridade, portanto, do chefe de governo anterior) até que, palavra de honra, a democracia sairá embrutecida à rua (ler o enojado artigo, ainda assim útil q.b., de Vital Moreira).
Este amargo de escrita tem duas derivações próprias: algumas páginas do jornal Público e as notícias das 20.00 da TSF.
A primeira referência diz respeito à página 9 do referido jornal, com publicidade institucional que o governo faz a/de si próprio; não sei quem paga o "reclame", mas que fique desde já esclarecido que eu não quero que o dinheiro dos impostos que pago sirva para este exercício do si. O que mais espanta, porém, por entre e sob o lema "Um Governo de Palavra", em que são visíveis as putativas palavras já cumpridas, são as referências ao Ministério da Educação: (sic) "-Revisão curricular do Ensino Secundário
- Revisão do Ensino Profissional
- Reforma do Ensino Recorrente
- Alteração da Revisão Curricular do Ensino Básico
- Proposta de Lei de Bases da Educação."
O choque é enorme, como se calcula já, e questionámo-nos logo se não estaremos ensandecidos. O raciocínio é do mais simples: em quatro pontos, três já se tinham iniciado, pelo menos, em dois governos anteriores e, se se reparar bem, desaguam na Lei de Bases da Educação de 1986 e nos subsequentes articulados de 89, 91 e 97, logo, a única medida realmente efectuada foi a reforma do Ensino Recorrente. Curioso é que mesmo essa única medida nada tem de original, mas antes de preventivo, perante os casos provados de currupção de acesso ao Ensino Superior. Curioso também, até por estar temporalmente próximo, foi o governo não se ter enaltecido e feito um exercício do si do novo regime de concurso e colocação de docentes (e indivíduos!).
Se isto foi feito em dois anos, o que poderemos esperar dos outros dois?
Isto passou-se com as notícias da manhã. As da tarde, finda a reunião de balanço governamental, ouvi o Primeiro-Ministro dizer que esperava que até 2010 o número de desistências do Ensino Secundário pudesse baixar. Ora, isto deixa-me intrigado. Ainda há pouco tempo, o governo anunciava a obrigatoriedade da frequência do Secundário a partir do próximo ano lectivo. Se assim é, os anúncios do Primeiro-Ministro são decorrentes dessa vontade legislativa ou, que é o que melhor se me afigura, não têm política educativa e é para fazer de conta que se está a fazer algo benéfico pelas gerações vindouras?
O problema miserável com que nos debatemos não está na elencagem das necessidades, mas em prospectar dividendos de uma sociedade futura e, sobretudo, coragem legislativa e política pela educação.
O problema que desespera, todavia, é não ver alternativas algumas!
Pergunta: vale a pena comemorar o dia de hoje? E afinal, por conhecermos as reprováveis atitudes sociais da oposição, que idade tem o 25 de Abril?

5.4.04

E-learning

Via blog portuguêsfrancês (C.A.P.) pode rumar-se até um site sobre novas tecnologias e actividades on-line.

4.4.04

Avaliação na Educação

Vale a pena ler com atenção três posts assinados por André Pacheco, na Educação em Debate.
Li com atenção e gostei particularmente do discurso pragmático relativo à hipocrisia das reuniões de avaliação e da aritmética que para elas se leva.
Afinal, faltou dizer isto: se as notas de avaliação são dadas em função do sumatório de dois testes por período, não se poderia dispensar os alunos da frequência de aulas?